Rodger Klingler nasceu em Nuremberg, em 1964.
Atualmente vive em Ingolstadt, próximo a Monique, tem uma filha e trabalha como roteirista. Lançou na Alemanha, em 2005, o livro
Das Leben der Anderen [A Vida dos Demais], sob o pseudônimo Calvin Gomes.
Memórias do submundo é seu segundo livro, o primeiro lançado no Brasil.
Ingolstadt, 17.06.09
Há mais de 20 anos que saí da cadeia no Rio de Janeiro. Quando voltei à Alemanha experimentei vários trabalhos, como cozinheiro, trabalhador em fábricas, e outros subempregos. O tempo livre que tinha, gastei sempre com um livro na mão. Fiquei ainda mais isolado do que antigamente. Claro que o inferno que passei, não me deixou sem cicatrizes, mesmo assim, devagar minha vida se normalizou. Frequentei uma escola de hoteleiro, e terminei o curso com sucesso. Logo depois, me casei e a minha filha Mira nasceu. Ela está com 13 anos agora. Infelizmente meu casamento não deu certo, e nos separamos. Anos depois encontrei a minha esposa atual, a Gitte, que também é separada e tem uma filha. Somos muito felizes e casamos em fevereiro deste ano.
Em 2005 publiquei o meu primeiro livro, “Das Leben der Anderen” na editora Oberbaum, em Berlim. Ao mesmo tempo frequentei uma escola de roteiros e logo depois escrevi o “Memórias do Submundo”. Sempre quis que o livro fora publicado no Brasil. Apesar do livro ser autobiográfico e curioso, quero chamar atenção às condições das pessoas que ainda vivem esse inferno nos presídios brasileiros.
O Brasil é um país tão maravilhoso, que acho está na hora das condições melhorarem. Às vezes sonho, que meu livro poderia ser o início para que algo mudasse, desta forma seria o homem mais feliz do mundo.
Há alguns anos quis entrar no Brasil para assinar o meu contrato com o Grupo Editorial Record, mas não foi possível, já que fui expulso do país. Até então, pensava que essa determinação se extinguisse após 10 anos, mas me enganei. Duas horas após embarcar no Brasil estava no avião de volta para a Alemanha. Fiz um pedido ao Ministério da Justiça para que eu pudesse entrar novamente no Brasil, pelo menos para lançar o meu livro. Por que? É simples, porque já paguei a minha dívida e gostaria de rever o Brasil de hoje, amo aquele país e tenho muitas saudades.
No momento trabalho com jovens estrangeiros que têm problemas na escola ou dentro de casa. Resolvo junto com eles o dia-a-dia e adoro esse trabalho. Fora isso, a minha outra paixão é escrever roteiros. Tenho prontinho um texto para o “Memórias do Submundo”, e seria fantástico se um produtor se interessasse nesta história para um filme.
Tenho muita curiosidade em saber o que aconteceu com as pessoas que estão presentes no meu livro, o que fazem hoje em dia. O único, além do Arthur que tive contato nos últimos 15 anos, foi o Alois. Ele conseguiu me contatar e me visitou várias vezes na Alemanha . Até hoje , o Alois não consegue se livrar do pesadelo que passamos juntos nos presídios cariocas.
Sobre o mundo das drogas, observo a distância e com muita consciência. Atualmente sou um esportista, dou muito valor à saúde física e mental. Sou muito feliz com a minha vida na Alemanha e família.
Mesmo depois de tanto tempo, ainda tenho pesadelos com os gritos dos mortos e de vez em quando eles não saem dos meus ouvidos...